A tragédia e a farsa democrática da UFSC: quais os motivos de uma eleição à reitoria em 2018?
Dia 28 de março a comunidade universitária da UFSC poderá escolher um dos candidatos para a reitoria da instituição. A UFSC, no entanto, não deveria ter uma consulta pública para escolha de reitoria antes de outubro de 2019, com posse em maio de 2020.
A vacância do cargo de reitor e vice-reitora inicia com a longa campanha nacional e internacional contra as instituições federais de ensino superior brasileiras que, aliadas a conjuntura de golpe no país, encontraram terreno fértil nas problemáticas relações entre fundações de apoio e UFSC.
A conhecida síntese dessa trágica história tem reveses internos reacionários e, ao invés de resistir à conjuntura de golpe, a instituição desenvolveu sua própria versão de golpe. A tragédia virou farsa, mas a farsa foi desmascarada e a comunidade universitária, via Comissão de Mobilização Unificada, assegurou que um novo dirigente máximo seja empossado somente após o aval dessa mesma comunidade. Essa história, entretanto, poderia ter sido outra e o Conselho Universitário de primeiro de novembro que designou um reitor pró-tempore para conduzir a universidade a uma nova eleição, é bem mais profunda que a ponta do iceberg.
A tragédia
Empossado em maio de 2016, Cancellier terminaria de cumprir seu mandato em maio de 2020. A ofensiva contra as universidades federais, no entanto, aproveitando-se das brechas abertas pela própria instituição em não apresentar transparência em sua relação com as sempre questionáveis fundações de apoio, conduziu uma operação desastrosa que culminou em uma tragédia sem precedentes e que já conhecida de todos, inclusive internacionalmente.
A farsa
Com o suicídio do reitor, o rito de posse da vice-reitoria foi subvertido e a UFSC caminhava a uma escolha de reitoria via conselho universitário. Em defesa do óbvio, o movimento dos TAEs articulou-se com os movimentos de estudantes de graduação e pós-graduação e com os professores vinculados ao ANDES. A questão foi levada, então, à Comissão de Mobilização Unificada da UFSC, que convocou a comunidade universitária à uma vigília democrática.
O movimento demandava uma sessão aberta do CUn, para a instituição definir a sucessão à reitoria. Com a sessão aberta, se esperava que o Conselho Universitário convocasse uma nova eleição ao cargo, e que a comunidade escolhesse o dirigente máximo da instituição de forma direta.
A vigília democrática ainda aprovou uma assembleia universitária, com o propósito de deixar explícito ao CUn que qualquer outra decisão teria consequências e que não seria aceito o grande golpe que se desenhava. A vigília democrática do dia primeiro de novembro chamou a atenção da imprensa externa e, menos de um mês da trágica morte de Cancellier, os movimentos mais reacionários da instituição tiveram de recuar.
A aprovação de uma assembleia universitária, aliada ao forte movimento de resistência foi suficiente para o Fórum dos Diretores recuar em seus acordos de distribuição de cargos. O Fórum constitui-se como um "pré Conselho Universitário" formado com a ausência de TAEs, estudantes e representantes docentes das Unidades de Ensino e que se reúne antes dos CUn para definir políticas institucionais sem diálogo com o restante da comunidade. O CUn vira, assim, uma mera formalidade administrativa.
Após a tragédia de Cancellier, a farsa foi desvelada e os diversos grupos tiveram de se reordenar: a comunidade universitária, com a vice-reitora afastada, teria uma reitoria eleita novamente no comando da instituição.
As eleições: uma chance de recomeço democrático
Depois da farsa, que foi uma tentativa do grande golpe, desenhou-se um golpe menor: entre os conselheiros universitários, se encaminhava a possibilidade de o CUn escolher o reitor, em sessão pública. O argumento era a suposta falta de tempo para a realização de uma eleição, como se a escolha do CUn não pudesse ser considerada uma eleição indireta. Mais ágil, mas, nem por isso, acertada. A defesa da instituição de uma possível intervenção do MEC não era, todavia, aceitável. De que adiantaria defender a universidade de uma intervenção externa por uma via interventiva interna?
Depois do grande golpe e do golpe menor, ainda houve a tentativa de um pequenino golpe, o "golpinho". O "golpinho" se traduzia no encaminhamento das eleições pra dezembro de 2017. Mais uma vez o pretexto de uma medida protetiva externa não foi aceito pela comunidade universitária e em poucas horas uma saída jurídico-administrativa antes inimaginável foi construída: um reitor pró-tempore seria nomeado pelo CUn com o único objetivo de assegurar o andamento administrativo da universidade, até as eleições, em período letivo, em março de 2018.
E aqui estamos, com três candidaturas, representativas dos mais diversos projetos de universidade e grupos da instituição. Um momento que definirá muito mais que os próximos quatro anos da instituição.
Dia 28 de março é o primeiro turno dessa consulta, que após a tragédia e a farsa, enfim, respira um pouco de democracia.